terça-feira, 26 de março de 2013

Filipe Ceppas fala sobre o movimento dos índios da Aldeia Maracanã




Confira também um de seus textos sobre a questão: 
Sobre a falácia que circula entre os conservadores de plantão.




A falácia: os "rebeldes sem causa", bando de jovens deslumbrados, se uniram à uma causa pseudo-indígena porque é fashion. Não entendem nada de índio e são massa de manobra de grupos políticos, desvinculados dos movimentos sociais.


Para desmontar essa falácia, é suficiente dizer:



I. A mobilização em torno da Aldeia Maracanã é, sim, uma defesa fundamental da cultura indígena. Em primeiro lugar, pela importância desse espaço que desde 1978 encontra-se abandonado pelo poder público e que foi resgatado (e não "invadido") pelos índios em 2006. Centenas de milhares de índios vivem no Brasil em codições ainda mais precárias do que esta vivida pelos índios da Aldeia Maracanã ao longo dos últimos 17 anos. Chamá-los de "mendigos", de "invasores", dizer que "não são índios de verdade", ou que "índio tem é que morar na floresta" é demonstração de estupidez e ignorância sem medida. Em segundo lugar, criticar as pessoas mobilizadas por sua maior ou menor cultura com respeito à questão indígena é puro diversionismo. O que importa é que essas pessoas percebem o valor simbólico da Aldeia Maracaná, entendem o valor histórico do prédio do Museu do Índio enquanto marco fundamental da política de resistência ao genocídio que vem sendo praticado contra os grupos indígenas do século XVI até hoje.



II. Só quem não sabe nada de mobilização popular pode achar que tudo não passa de grupelhos manipulados por partidos, sindicatos, etc. Em toda a mobilização popular você encontra de tudo: pessoas ligadas a ONGs, gente da defensoria pública, militantes de partidos e associações diversas, punks, estudantes, intelectuais e artistas sem qualquer filiação, etc. O que os críticos da mobilização em torno da Aldeia Maracanã não entendem, ou não querem entender, é que a importância desta mobilização transcende a questão da "defesa da Aldeia", ou melhor, que a defesa da Adeia tornou-se parte indissociável da defesa do espaço público e da democracia; contra as concessões dos espaços públicos à iniciativa privada e sua consequente política de remoções, gentrificação, militarização e hipervalorização imobiliária, que o Governo do Estado e a Prefeitura vêm fazendo à revelia da lei, do bom senso e da transparência.


Essas seriam as premissa mínimas para um começo de conversa com quem realmente esteja interessado em debater a respeito. Mas a maioria das críticas que vejo no FB ou nos comentários a sites de jornais e blogs é de um pessoal ignorante que não quer pensar nada disso, que aproveita o momento para desopilar sua bílis ou para exibir sua arrogância intelectual e afetiva, pessoas que preferem simplesmente ignorar os processos de destruição do Estado promovidos pelo atual governo e pela prefeitura, com a conivência e mesmo cumplicidade do Governo Federal.

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