domingo, 4 de outubro de 2015

Polícia no nono andar, telefones grampeados, professores e entidades estudantis criminalizados.


O ADEP vem por meio desta nota tornar pública e politizar a discussão em torno da criminalização e perseguição política que ocorrem hoje na UERJ. 

Achamos necessário que isso seja denunciado agora em meio ao processo eleitoral para a reitoria, pois a chapa 'Avança UERJ', sendo a representação da continuação da atual gestão, acredita poder nos calar por meio do medo e da ameaça e deve responder publicamente pelas ações políticas que defende dentro da Universidade.

Não fazemos isso, entretanto, tendo em vista o processo eleitoral, pois sabemos que a criminalização agora levada a cabo tem raízes muito mais profundas em uma política de Estado que ultrapassa os muros desta Universidade. Fazemos isso porque diz respeito aos que se preocupam com o que a UERJ pode e deve significar neste contexto maior, porque se trata de uma discussão sobre os limites da democracia atual, e porque acreditamos que a injustiça que se faz a alguns é realmente a ameaça que se faz a todos.

Recentemente durante um violento desalojo na favela do metro-mangueira, um grupo de estudantes em ato foi apoiar a resistência dos moradores, que eram arrancados de suas casas com tudo dentro em meio às bombas de gás e sprays de pimenta exatamente na hora que as crianças chegavam da escola. Por conta do apoio e a repercussão do ato na UERJ foi concedida uma liminar que impossibilitou a continuação até agora da remoção de algumas casas. No dia seguinte ao ocorrido, entretanto, tentou-se fazer parecer que a UERJ havia sido invadida por criminosos, que por isso algumas vidraças muito mais valiosas que a vida humana haviam sido quebradas, e a reitoria lançou uma nota ameaçando de perseguição e criminalização supostos “membros indignos” que teriam trazidos “pessoas estranhas” para dentro da UERJ.

Neste momento, inúmeros professores e funcionários do nono andar (andar da FIlosofia, História e Ciências Sociais) da UERJ estão sendo intimados para depôr. A presença policial é constante em nossas atividades, aulas e reuniões. O Centro Acadêmico de Filosofia está sob investigação supostamente por conta do consumo de maconha por estudantes no nono andar. Sabemos que uma série de falsas denúncias foram feitas por professores desta própria Universidade por supostas ligações com o tráfico de drogas. Nossas mobilizações seguem assim rastreadas por grampos, nossos espaços são monitorados, nossas atividades são perpassadas pelo terrorismo de Estado. Enquanto isso, as funcionárias e funcionários terceirizados continuam com seus pagamentos cortados, o processo de precarização da educação é agravado e o apartheid social cresce na cidade como um todo. Mas de onde mesmo poderiam sair, como em outro momento já saíram, fortes e interessantes mobilizações, apoios e resistências? Bom, melhor então que estejam monitorados e acuados. Daí aparece alguém para dizer que o problema no nono andar é o cheiro de maconha.

Mas o problema nunca foi nem nunca será o consumo de maconha nos centros acadêmicos, tal como não é um problema para o Estado a droga que se consome na zona sul e demais ambientes elitizados. O problema é o nono andar da UERJ não ser mais um ambiente tão elitizado como se gostaria, o problema é a favela começar a adentrar este espaço, o problema é a auto-organização estudantil, o problema é o que o CAFIL significa hoje na política universitária, as mobilizações, reuniões, assembleias quase diárias de inúmeros coletivos presentes em um ambiente político estudantil saudável como vem sendo (e lutaremos para que continue) o nono andar da UERJ. Tal como o problema nas favelas não é nem nunca foi o tráfico de drogas, mas a criminalizaçao e controle do povo pobre, sendo o tráfico a desculpa perfeita para militarização da favela, nada mais tentador ao Estado do que repetir a fórmula de sucesso no contexto universitário e travestir agora de guerra às drogas o intervenção policial na organização política do nono andar.

Deste ponto de vista, com profissionais se sentindo ameaçados e sem nenhuma resposta política clara de repúdio à política policial estabelecida dentro da Universidade em pleno processo eleitoral para a reitoria, não seria estranho se um falso flagrante fosse implantado em uma das salas do nono andar, forjando assim a materialidade que o Estado precisa para controlar ainda mais o espaço. A História mostra inúmeras situações como esta acontecendo.

De posse desta informação, nós podemos nos antecipar. Conclamamos a comunidade acadêmica a se posicionar claramente sobre o que vem ocorrendo na UERJ. Não é normal a intimação em massa de professores, não é normal quando professores vão fazer falsas denúncias sobre uma professora politicamente ativa, não é aceitável termos nossos telefones grampeados e policiais infiltrados em nossas aulas. Se você aceita pacatamente o intolerável, está contribuindo para que esta situação se agrave.

Mas esta nota é também para dizer que o ADEP não se intimida, que entendemos perfeitamente o sentindo político da perseguição agora em curso e que estamos preparados para resistir a ela.

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